domingo, 10 de outubro de 2010

A Vida em uma nação de Cristãos

A vida em uma nação de Cristãos (autor: Julio Lobo)




Vivemos em uma nação de MAIORIA católica e evangélica!
Crescemos sob o jugo de um calendário cristão! Quando crianças somos julgados passo a passo por nossos colegas. Vivemos natais, páscoas e outros feriados tipicamente católicos (e as vezes comemorados em uma ou outra religião evangélica) sem de fato nos sentirmos imersos neste universo, apenas vivemos por nos sentirmos (quando crianças) excluídos do todo. Experimente ser judeu e não aparecer na escolinha no ano que vem falando do novo brinquedo que Papai Noel lhe trouxe!
Já que comecei falando de Natal, tomemos o tópico com exemplo!
Minha mãe é de família judia. Meu pai de família católica. Nasci no meio de duas contradições e assim quase me sinto, eu mesmo, uma contradição. Sempre comemorei o Natal ouvindo de meus colegas que eu não tinha este feriado. Como não ter um feriado que é adotado mundialmente? Como fazer com que me entendam?
PRESTE ATENÇÃO!
O que é o Natal?
Para a maioria das crianças o Natal nada mais é do que uma competição de quem ganhará mais presentes do papai ou do Papai Noel.
Para os adultos a coisa é ainda pior! Junto com o feriado do Natal vem uma coisa chamada “o espírito de Natal”, a famigerada compaixão, a humildade, a caridade...bondade acima de tudo! Passamos um ano inteiro agindo da forma mais orgulhosa e egoísta que podemos para, no final do ano, como uma medíocre forma de redenção, oferecermos presentes às crianças carentes, ajudarmos os pobres, os desabrigados, os necessitados... PARA QUÊ!? Para que possamos nos sentir bem! Não fazemos a caridade para ajudar aos outros, fazemos a caridade para nos ajudar, para, ao final daquele mês de dezembro, estarmos em paz com nossos fantasmas... Nos sentiremos bem e em nossas cabeças surgirá a frase: - Eu fiz a minha parte.
Como já havia lhes dito, nasci em uma família 50% judia e 50% católica. Não sou judeu, nem católico. Nem eu, nem minha irmã, nem meu pai, nem minha mãe... Nossas famílias o são, nós não.
Cresci rodeado pelos costumes e aprendizados do espiritismo e quando tive a idade para decidir pela minha religião, me abstive! Tornei-me uma versão de agnósticos (não acreditava em religiões, acreditava em Deus).
Agora, mais velho, sinto menos os impactos desta poderosa nação cristã, mas ainda assim os sinto. Até hoje existem fatores discriminantes ligados a religião, como o Hospital Adventista, que apenas contrata adventistas, ou mesmo o comerciante que apenas contrata em suas lojas pessoas que pertençam a mesma religião ou igreja a qual ele pertence. E cá estamos nós de novo no meio de um mundo dividido. Nos sentimos horrorizados quando na televisão somos obrigados a ver cenas de uma absurda guerra étnica entre Judeus e Muçulmanos, mas será mesmo pior esta guerra declarada na qual eles vivem do que este preconceito velado, escondido por véus de cortesia e cordialidade no qual vivemos?
À medida que fui ficando mais velho, fui sentindo a necessidade de me encontrar. Encontrar um sentido para esta nossa medíocre existência. Passei por algumas religiões. Espiritismo, Budismo, Hare Krishna, Santo Daime, algumas formas de Ocultismo. NADA!
Encontrei-me no Candomblé! Religião de origem africana, trazida para cá pelos escravos do Brasil Colônia. O candomblé brasileiro é um pouco distinto do africano. Na África existia o que podemos chamar de “Nações”, essas “Nações” praticavam um candomblé semelhante e ao mesmo tempo ligeiramente diferente. Quando chegaram os escravos essas “nações” se misturaram, e junto com elas as especificidades de seus credos e tradições. Aí começou o preconceito de uma nação. Os negros por praticarem dogmas e práticas incompatíveis com o que era considerado “civilizado” se viram proibidos, pelos brancos, de praticar sua religião. Nasceu assim a Umbanda, uma forma de sincretismo entre os santos católicos com os Orixás, Inquices e Voduns do Candomblé. Durante anos e anos os negros foram perseguidos por tentarem seguir seus credos, e até hoje vivemos isso.
Nações cristãs (católicas ou evangélicas) possuem em sua história a mancha da perseguição contra o que não compreendem, ou que apenas se distinga do que acreditam. Existem as cruzadas, a inquisição, a caça as bruxas, realizada nos Estados Unidos da América e muitos outros casos.
Hoje nos deparamos com a perseguição de muçulmanos nos Estados Unidos, sempre com o pretexto de poderem todos estar ligados as várias facções terroristas. Deparamos-nos com o preconceito e a perseguição de católicos e evangélicos para com o Espiritismo, a Umbanda e o Candomblé, apenas por não acreditarem em incorporação, em vida após a morte... em nada.
Infelizmente não vivemos em um mundo tão simples assim. Este preconceito, esta perseguição não existem apenas nesta nossa nação cristã. Dividindo cada religião em pequenas nações, considerando como nação também o ateísmo e o agnosticismo, podemos notar que cada qual detém parcela de culpa sobre este mundo hipócrita que dividimos. Os cristãos possuem seu preconceito contra os espíritas, umbandistas e candomblecistas, mas o espírita tem seu preconceito contra o umbandista e o candomblecista, e o umbandista tem seu preconceito contra o candomblecista.
Percebem o espírito da coisa? Nosso mundo dá voltas! O ódio, o preconceito, a perseguição apenas trazem mais deles mesmos.
Assim seguimos vivendo, nos perseguindo, nos encontrando, nos odiando e nos amando.

E devo lembrar, alguns podem ler este manifesto e dizer que não concordam e não se encaixam no que digo. Assim como tenho o direito de escrever o Artigo, você leitor tem o direito de concordar ou não com o que escrevo, mas espero deixar claro que não me refiro a todos, apesar de me referir a muitos. E me refiro a mim!

2 comentários:

  1. Ouvi Antônio Abujamra dizer mais uma de suas 'Provocações' - "Aqueles que dizem que a arte não deve propogar idéias políticas, somente estão dizendo daquelas idéias contrárias as suas".
    E a vamos agindo assim pela vida, em todas as áreas. É sempre melhor parecer que estamos 'agindo', combatendo os outros. Isso esconde o fato de que na verdade estamos parados. É um tipo de ver o outro para não enxergarmos a nós mesmos.

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