quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aonde?

Aonde? (autor: Julio Lobo)

Apertados corredores.
Cada passo,
Cada centímetro andado,
Os corredores se fecham,
Se apertam.

É como se eles mesmos corressem,
Em meio a uma súbita escuridão,
Nada se vê!
Nada se ouve ou sente;
Apenas corre.

E a cada passo se aperta,
Não apenas o passo;
Se aperta a angústia,
O turbilhão se aperta.

Idéias,
Sentenças,
A vida se aperta!
De si mesma corre.

Temores.
Anseios.

Aonde moramos?

Leftovers

Antes de mais nada quero esclarecer algo sobre o texto. Esta em inglês! Há tempos não escrevia algo em inglês e hoje me peguei inspirado pelo idioma. Lá vai!


Leftovers (autor: Julio Lobo)

Every day,
Every night.

We live.
Eat,
Drink,
Work,
Fuck,
Consuming!

Always!

Every single step through life consumes something new... doesn't matter what!
While living, human beings are producing more leftovers than all others species combined and we don't even stop to think about this terrible certainty!

We live!
Eat!
Drink!
Work!
Fuck!
We consume,
Feelings.

And,
What about those leftovers?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ComTemp(L)o

ComTemp(L)o (autor: Julio Lobo)

O chão, molhado,
Marcas dos pés,
Molhados,
Passageiros.

A noite, de regorjizo,
A manhã, de despedida.
Tudo isso em cinco horas.
Fatalidades.

Deitar ao seu lado é meu extase. Nada precisamos fazer, apenas deitar.
Perceber-te... seu calor, sua respiração; seus anseios e desejos. Nada precisamos fazer, apenas deitar.

NADA PRECISAMOS FAZER!!!
Queria ter feito.

E o tempo?
Volta? 

PassaTempo

PassaTempo (autor: Julio Lobo)

Em meus sonhos,
ouço o soar dos sinos;
Acordo,
De sobre salto.

Terrível sonho,
Terrível dia,
Terrível! Espero que não!

Pratico, somo sempre,
O mesmo ritual,
Barba, dentes,
Banho, roupa;
Saio!

No trabalho, chego cedo;
Ninguém ainda.

Ouço portas,
Nomes,
Passos,
Sinais,
Do horário.

A vida chama!

Acordo!
Hospital!
Tudo esta o mesmo.
É como se não passassem os dias!
Mas passam.

Um ano!
Da cintura para baixo,
Não há resposta.
Nada sinto!

Espero,
Sempre espero,
Só me resta esperar.

Como foi bom trabalhar!!!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"Coisas tantas"

"Coisas tantas" (autor: Julio Lobo)

Imagine,
O Bem e o Mal.
A boa e velha dicotomia.
Valiosos conceitos, não são?
Claros e objetivos.

Mas,
Acrescente preto no branco,
Branco no preto,
Assim temos o cinza.
E você pensa; "para que complicar?"

Se A + B = X,
Para que complicar?
Para que vamos acrescentar mais "A" à equação?

Nem tudo é o que parece!

Uma equação de segundo grau,
Isto é o cinza!
Logo ali, bem próximo,
Bem em cima da fronteira entre Bem e Mal,
É lá que ele vive.

E como é Tênue esta fronteira!
Quase ilusória.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sozinho!?

Sozinho!? (autor: Julio Lobo)

O quarto escuro,
Muito se passa em minha cabeça,
Um enorme silêncio me rodeia.

Latidos!
Rompe-se o silêncio,
À léguas, primeiro;
Encolhem-se as léguas!

Me afronta a proximidade,
Uma inquietude de mim se apodera,
Antes calma, se apressa,
Torna-se visceral, minha respiração.

Sinto eriçados os pelos de minha nuca.

Certa vez, "li" que os cachorros (os nossos) agem como protetores, são nossos guardiões!
E exclamarão vocês, leitores: - "Claro que os são, afinal os temos para guardar nossas casas!", mas quando me refiro à eles como guardiões, não me refiro como guardiões do material, refiro-me ao espiritual!
Quando "li" sobre isto, lembro-me de falarem da capacidade que este nobre animal tem de ver o espiritos e nos guardarem, afungentarem os que nos querem mal.

Vejo 3 cadelas latindo para o que não vejo,
Assim como os meus, seus pelos estão eriçados,
LATEM, LATEM, LATEM...
Subitamente param!
Se acalmam.

É fascinante;
Estar consciente,
E nunca ver,
Todo um Mundo!

Uma existência,
Paralela, muitas vezes.
Nós influênciamos;
Ela, nos influi!


domingo, 17 de outubro de 2010

É Natal!

É Natal! (autor: Julio Lobo)

No rosto,
Dilatam-se poros,
Ao suor dão vazão;
Uma gota se forma!

Escorre,
Curvas percorre,
Testa, nariz, bochecha,
Cai! Como chuva!
Agora, impresso no chão,
Sinais do cansaço.

O quente bafo,
A sala, escura,
Sem portas ou janelas,
Paredes impedem a  luz,
Absorvem a radiação.

Torna-se, a pequena sala, um forno.
E eu, um peru.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Entre o "Bem" e o "Mal"

Entre o "Bem" e o "Mal" (autor: Julio Lobo)

    Época de Eleição!
    O primeiro turno já passou e agora aguardamos, ansiosos, pelo fim desta tragicomédia.
    Todo o dia, durante este período, somos obrigados a interromper nosso horário de lazer para ouvir às 8 horas da noite uma coletânea de besteiras, calúnias e falsas promessas.
    Caso estejam vocês se perguntando de qual partido sou, logo aviso, não sou partidário a ninguém! O que traz ao tópico de maior revolta para mim. Quando penso na política de nosso país, acredito que o partidarismo seja o nosso maior problema.
    Pensem bem!!!
    Ontem, dia 14/10, eu estava assistindo ao "programa eleitoral gratuito" (alguém realmente acredita que ele seja gratuito?) e imaginem a minha revolta quando vi, no horário do PT ser dito que "para um bom governo é necessário ter ao seu lado a maioria do congresso e Dilma o tem". Deus, à que ponto chegamos!? As únicas coisas que deveriam ser de fato necessárias para um bom governo são boas propostas de leis e um bom plano de governo!
    É por isso que digo... O partidarismo excessivo corrói nossa democracia!
    Não tenho dedos suficientes para contar quantas vezes ouvi somente nesta eleição, de amigos e conhecidos, que "preferem a Marina mas como são petistas votarão na Dilma"... O VOTO É SEU E NÃO DE SEU PARTIDO! Você pode ser coligado a um partido, compartilhar de suas proposta, seus ideais e mesmo assim não concordar com quem seu partido escolhe para concorrer a um cargo público, ESPECIALMENTE À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA!
    Vou contar um segredo a vocês... ninguém ficará sabendo em quem você votou.
    Pensei em parar por aqui, mas depois que li tudo o que havia escrito decidi continuar para não correr o risco de ser mal compreendido. Reafirmo a vocês, não sou do PT, nem do PSDB, nem do PV, não sou de nenhum deles, prefiro ser brasileiro a ser partidário!
    Neste momento, sinto-me terrivelmente incomodado com um aspecto em especial no programa que o Serra tem veiculado em nossas casas todos os dias. Por que é que ele faz uso desta dicotomia do "Bem e do Mal"?
    Serra é do BEM!?
    Cada vez que assisto estes programas me sinto mais e mais dentro de um jogo de RPG (role playing game), onde a Dilma faz as vezes de um maléfico dragão que aterroriza todo o reino brasileiro e Serra é o honrado cavaleiro que virá nos salvar... FAÇA-ME O FAVOR!!!
    Agora que paro para pensar, sem querer encontrei o perfeito objeto de comparação... É ISSO!
    A política brasileira se tornou um jogo de RPG na vida real. Alguns meses antes do período eleitoral os candidatos e suas respectivas cúpulas se juntam para criar o personagem perfeito para enfrentar esta nova aventura do Bem contra o Mal, onde cada um representa o seu Bem contra o seu Mal.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Paraísos Artifíciais

Paraísos Artifíciais (autor: Julio Lobo)

(Foto: Julio Lobo)

    Quero falar sobre essa solidão, esse afastamento que nos é imposto pela pós-modernidade, sobre como o Homem "pós-moderno" se torna cada vez menos civilizado e se ilha em construções cada vez mais altas (se afastando cada vez mais dos conceitos de sociedade firmados há séculos), buscando, creio eu, o céu e o paraíso, Deus!
    Quero afirmar a máxima de que a arquitetura nada mais é do que um reflexo da psiquê de uma Era, que nesta Era pós-moderna nos deparamos cada vez mais com conceitos elitistas, onde sonhamos em viver no inalcansável, alegando a busca por "segurança" cada vez mais o Ser Humano se isola da sociedade, criando seu paraísos artificiais, seus Oceanos de concreto.
    Estou agora imerso neste contexto que sempre odiei. Sinto-me inebriado por esta cortina cinza que me é imposta e que faz em mim aflorar sentimentos estranhos.
    Gotas de suor cobrem meu rosto, pios nesta cortina nem mesmo o ar "corre".
    Tudo paira, inerte, neste "ar" de mistério.

"Aula"

"Aula" (autor: Julio Lobo)


Dúvidas atrozes,
Consciência...
Texto! Vai e vem...

5 minutos,
2 frases,
O outro senta,
Gruda,
Não produz.

O importante é ensinar...
Ensinar a ver...
Sabem ver?
A priori sim,
Mas não,
Não!

Em que sentido, "ensinar a ver"?
Ver o que é retratado,
Pela língua... no contexto.

- Dita Dama...
Decote acentuado...
Saia...
Absurdo...
Mesmo assim, não! NÃO!!!

Embotados, estereotipados,
Olfato acabado...
Cheiro da sala,
Não! Cheiro de bolo!

Qué saber!?
Sei lá!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ComSequência



ComSequência (autor: Julio Lobo)


ComSequência (autor: Julio Lobo)

Sessenta segundos.
Já notaram como demora para passar um minuto?
Foram 28 anos vivendo de forma intensa, sem nunca dar muita importância aos minutos, aos segundos. Vivemos no todo, no inteiro, nunca nas frações.
Quando nascemos, naquele breve momento em que deixamos o aconchego de nosso recanto uterino para sermos expostos à "vida", ainda não temos a noção material de tempo, é como se estivéssemos vivendo em um espaço diferente de tempo.
Passam-se os dias, as noites, nosso tempo se acomoda, se encaixa ao tempo da vida na medida em que vivemos. E como é curta essa nossa vida!
20, 30, 40, 50...100! 
Tudo passa em um piscar de olhos! Então pensamos que a vida deve ser aproveitada plena e intensamente. Vivemos cada dia como se fosse nosso último, com anseios e desejos cada vez maiores... e assim nos esquecemos do fundamental.
Toda ação tem uma reação. Para tudo existe uma contra-parte.
Cada atitude que tomamos terá consequencias, boas ou más.
Não podemos viver cada dia como se fosse o último. Desta forma nos tornamos desleixados, despreocupados com as consequências de nossos atos. Podemos, sim, viver o momento, refletir sobre nossos passos.
Pense antes de agir, pese suas ações em uma balança, lembre-se que toda ação TEM uma reação.

NUNCA se esqueça de que entre o início e o fim do minuto existe a eternidade.

domingo, 10 de outubro de 2010

Paródia da Canção do Exílio de Gonçalves dias





Canção em Exílio (autor: Julio Lobo)

Minha terra tem palmeiras,
Todas artificiais,
Os rádios, que aqui gorjeiam,
Imitam sons de animais.

Nosso céu não tem estrelas,
E sim luzes industriais,
Nossas várzeas não tem flores,
Nossos bosques, o concreto,
Nossa vida, só temores.

Em rimar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu cá;
Minha terra tem palmeiras,
Todas artificiais.

Minha terra tem horrores,
Como os que encontro eu cá,
Em rimar,
Sem prazer, cá ou lá;
Minha terra tem palmeiras,
Todas artificiais.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu veja TUDO mudar,
Sem que mudem nossa várzeas,
Nossos medos,
Nossa vida.

A Vida em uma nação de Cristãos

A vida em uma nação de Cristãos (autor: Julio Lobo)




Vivemos em uma nação de MAIORIA católica e evangélica!
Crescemos sob o jugo de um calendário cristão! Quando crianças somos julgados passo a passo por nossos colegas. Vivemos natais, páscoas e outros feriados tipicamente católicos (e as vezes comemorados em uma ou outra religião evangélica) sem de fato nos sentirmos imersos neste universo, apenas vivemos por nos sentirmos (quando crianças) excluídos do todo. Experimente ser judeu e não aparecer na escolinha no ano que vem falando do novo brinquedo que Papai Noel lhe trouxe!
Já que comecei falando de Natal, tomemos o tópico com exemplo!
Minha mãe é de família judia. Meu pai de família católica. Nasci no meio de duas contradições e assim quase me sinto, eu mesmo, uma contradição. Sempre comemorei o Natal ouvindo de meus colegas que eu não tinha este feriado. Como não ter um feriado que é adotado mundialmente? Como fazer com que me entendam?
PRESTE ATENÇÃO!
O que é o Natal?
Para a maioria das crianças o Natal nada mais é do que uma competição de quem ganhará mais presentes do papai ou do Papai Noel.
Para os adultos a coisa é ainda pior! Junto com o feriado do Natal vem uma coisa chamada “o espírito de Natal”, a famigerada compaixão, a humildade, a caridade...bondade acima de tudo! Passamos um ano inteiro agindo da forma mais orgulhosa e egoísta que podemos para, no final do ano, como uma medíocre forma de redenção, oferecermos presentes às crianças carentes, ajudarmos os pobres, os desabrigados, os necessitados... PARA QUÊ!? Para que possamos nos sentir bem! Não fazemos a caridade para ajudar aos outros, fazemos a caridade para nos ajudar, para, ao final daquele mês de dezembro, estarmos em paz com nossos fantasmas... Nos sentiremos bem e em nossas cabeças surgirá a frase: - Eu fiz a minha parte.
Como já havia lhes dito, nasci em uma família 50% judia e 50% católica. Não sou judeu, nem católico. Nem eu, nem minha irmã, nem meu pai, nem minha mãe... Nossas famílias o são, nós não.
Cresci rodeado pelos costumes e aprendizados do espiritismo e quando tive a idade para decidir pela minha religião, me abstive! Tornei-me uma versão de agnósticos (não acreditava em religiões, acreditava em Deus).
Agora, mais velho, sinto menos os impactos desta poderosa nação cristã, mas ainda assim os sinto. Até hoje existem fatores discriminantes ligados a religião, como o Hospital Adventista, que apenas contrata adventistas, ou mesmo o comerciante que apenas contrata em suas lojas pessoas que pertençam a mesma religião ou igreja a qual ele pertence. E cá estamos nós de novo no meio de um mundo dividido. Nos sentimos horrorizados quando na televisão somos obrigados a ver cenas de uma absurda guerra étnica entre Judeus e Muçulmanos, mas será mesmo pior esta guerra declarada na qual eles vivem do que este preconceito velado, escondido por véus de cortesia e cordialidade no qual vivemos?
À medida que fui ficando mais velho, fui sentindo a necessidade de me encontrar. Encontrar um sentido para esta nossa medíocre existência. Passei por algumas religiões. Espiritismo, Budismo, Hare Krishna, Santo Daime, algumas formas de Ocultismo. NADA!
Encontrei-me no Candomblé! Religião de origem africana, trazida para cá pelos escravos do Brasil Colônia. O candomblé brasileiro é um pouco distinto do africano. Na África existia o que podemos chamar de “Nações”, essas “Nações” praticavam um candomblé semelhante e ao mesmo tempo ligeiramente diferente. Quando chegaram os escravos essas “nações” se misturaram, e junto com elas as especificidades de seus credos e tradições. Aí começou o preconceito de uma nação. Os negros por praticarem dogmas e práticas incompatíveis com o que era considerado “civilizado” se viram proibidos, pelos brancos, de praticar sua religião. Nasceu assim a Umbanda, uma forma de sincretismo entre os santos católicos com os Orixás, Inquices e Voduns do Candomblé. Durante anos e anos os negros foram perseguidos por tentarem seguir seus credos, e até hoje vivemos isso.
Nações cristãs (católicas ou evangélicas) possuem em sua história a mancha da perseguição contra o que não compreendem, ou que apenas se distinga do que acreditam. Existem as cruzadas, a inquisição, a caça as bruxas, realizada nos Estados Unidos da América e muitos outros casos.
Hoje nos deparamos com a perseguição de muçulmanos nos Estados Unidos, sempre com o pretexto de poderem todos estar ligados as várias facções terroristas. Deparamos-nos com o preconceito e a perseguição de católicos e evangélicos para com o Espiritismo, a Umbanda e o Candomblé, apenas por não acreditarem em incorporação, em vida após a morte... em nada.
Infelizmente não vivemos em um mundo tão simples assim. Este preconceito, esta perseguição não existem apenas nesta nossa nação cristã. Dividindo cada religião em pequenas nações, considerando como nação também o ateísmo e o agnosticismo, podemos notar que cada qual detém parcela de culpa sobre este mundo hipócrita que dividimos. Os cristãos possuem seu preconceito contra os espíritas, umbandistas e candomblecistas, mas o espírita tem seu preconceito contra o umbandista e o candomblecista, e o umbandista tem seu preconceito contra o candomblecista.
Percebem o espírito da coisa? Nosso mundo dá voltas! O ódio, o preconceito, a perseguição apenas trazem mais deles mesmos.
Assim seguimos vivendo, nos perseguindo, nos encontrando, nos odiando e nos amando.

E devo lembrar, alguns podem ler este manifesto e dizer que não concordam e não se encaixam no que digo. Assim como tenho o direito de escrever o Artigo, você leitor tem o direito de concordar ou não com o que escrevo, mas espero deixar claro que não me refiro a todos, apesar de me referir a muitos. E me refiro a mim!

Me=morar, Eu=morar, Recordar, Instigar, Viver!

Quero começar este meu primeiro "post" esclarecendo que esta foi uma crítica desenvolvida para a aula de reportagem do curso de Jornalismo da UFMS no final do ano de 2009. Tendo esclarecido isto, sigamos ao texto.


Me=morar, Eu=morar, Recordar, Instigar, Viver! (autor: Julio Lobo)


(Foto: Julio Lobo)

O espetáculo se passa em uma viela, a Rua Dr. Ferreira, a casa alugada para ser sítio deste plano alternativo recente e brevemente inserido neste túnel do tempo (a viela) se encontra a meio caminho entre o início e o fim da Dr. Ferreira, o que de fato já é parte do espetáculo em si. No momento em que se dobra a esquina a direita para entrar na dita viela, ela de fato se torna um túnel do tempo; não se sabe disso enquanto não se presencia o espetáculo, porém após o final do mesmo é perceptível que o restante do caminho (não importa se percorrido de carro, moto ou mesmo a pé) é o fim de uma experiência transcendental, nota-se que por algum tempo somos arrastados por um buraco temporal (a casa) e presenciamos sensações, odores, instintos...é uma experiência vivida não pela sua pessoa, é algo lhe envolve de maneira sensorial, penetra nos poros...e não mais nos deixa. 
Confesso que minhas prévias experiências com a dança contemporânea não haviam sido satisfatórias, como também confesso minha ignorância frente à expressão artística em questão. Desta vez sou obrigado a rever meus conceitos, meus “achares”.
Ao entrar naquela casa você se sente acuado. É um ambiente estranho, pouco iluminado, e mesmo antes da entrada dos dançarinos é um ambiente cheio. Logo nos primeiros passos além da primeira porta já se percebem os ruídos, o ranger da porta que em realidade é produzido pela sonoplastia nos parece terrivelmente real e no momento que é começada a dança propriamente dita, ai sim o enfrentamento se faz presente. Cada respirar, cada passo, cada jogada que se faz com os corpos em movimento dentro daquela pequena casa a nós (público) é transmitida, e como nos assusta esta transmissão sensorial, todo aquele prazer, aquele cansaço. Tudo é tão intenso, do princípio ao fim do espetáculo, que começa a nos saturar. São memórias contadas, imagens impressas em nossas retinas, e cada elemento do espetáculo se torna tão objetivo quanto foi subjetivamente pensado.

O espetáculo foi idealizado pelo Coletivo Corpomancia, caso queiram conhecer mais do trabalho deste pessoal aqui vai o link: http://corpomancia.blogspot.com/